domingo, 17 de março de 2024

cidade veracidade

onde tudo é carnaval

minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes de estudar no grupo escolar xv de novembro de onde muitas vezes assisti desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa que eu chuto meu guardião       absoluto

 

Artur Gomes

Vampiro Goytacá

https://fulinaimagens.blogspot.com/ 


cidade veracidade

                 campos 189

 

transverso

atravesso esta cidade

que me atravessa

em silêncio

ouço o gemido

dos teus ecos

por ruas avenidas e vielas

sinto saudade

dos terreiros de jongo

nas favelas

e as lavadeiras

das pinturas aquarelas

em teus aceiros

fiz meus trilhos

em cada  trilha

dos meus traços

no encontro

ao ururau no cais da lapa

teu por do sol

pode ser beijo

ou também tapa

quando olho a catedral

e seu contorno

seres famintos

alimentando o desalento

me solto ao vento

quando penso o infinito

beijo teu rio

o paraíba que me leva

em teu lamento

me concentro em minha reza

 

Artur Gomes

https://arturgumes.blogspot.com/


goytacá boy

musicado e cantado por naiman
no cd fulinaíma sax blues poesia - 2002


ando por são paulo meio araraquara a pele índia do meu corpo concha de sangue em tua veia sangrada ao sol na carne clara

juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara

para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral como colar de uiara é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda
lágrima que mãe chorara

para roçar para provar para tocar
na sua pele urucum de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 20218

https://secretasjuras.blogspot.com/



Poética, política e memória

 Escrever prefácio para um livro de Artur Gomes é um desafio prazeroso. Desafiante é mergulhar no universo imagético e político que sempre compôs sua poética. Este O Homem Com A Flor Na Boca : Deus Não Joga Dados acrescenta o substrato memorialístico ao seu repertório formando a tríade que sustenta o livro temática e formalmente. Meu primeiro contato com a poesia de Artur se deu nos anos 80 por intermédio de seu livro Suor & Cio, obra cuja temática estava em consonância com as reflexões suscitadas pelas “comemorações” do centenário da Abolição da Escravatura em 1988. A partir daí, acompanhei suas criações tanto impressas quanto performáticas, pois Artur não é poeta apenas de livros e silêncios das salas de estares, livrarias e bibliotecas, mas também dos bares, ruas e praças que são do poeta como o céu é do condor.

 Poucos poetas contemporâneos expressam tão bem as principais bandeiras do Modernismo de 22 quanto esse vate pós-moderno. Sua poesia é política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica e sobretudo intertextual, além de dotada de uma brasilidade corrosiva, avessa ao nacionalismo acrítico que se tem espraiado pela ex-terra de “Santa cruz”.

 Neste livro estão todas essas marcas do poeta às quais acrescento o caráter memorialístico. Nele, Artur não apenas rememora antigos poemas por meio de alusões, paráfrases e paródias como traz para seus versos passagens assumidamente biográficas, se apropriando, em alguns momentos, do gênero diário.

 Estão contidos nessas memórias seus vários heterônimos: Gigi Mocidade, Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè, Federika Bezerra, Federika Lispector. Diferente do que ocorre com o poeta português Fernando Pessoa, a heteronímia em Artur não se manifesta menos na autoria do que no tecido ficcional. Suas diferentes personas emergem dos poemas para a realidade das redes sociais, interagem entre si, com o poeta e os leitores.

 É Gigi Mocidade, por exemplo, que carrega a bandeira do espírito subversivo com seu grito “Irreverência ou morte”, já nas primeiras páginas do livro, e a epígrafe de Federico Baudelaire “escrevo para não morrer antes da morte” anuncia a intenção memorialística. Sócrates, no seu diálogo com Fedro na obra de Platão, argumenta que a escrita seria a morte da memória, mas o que seria de todo o repertório literário não fosse essa invenção humana? Quais mentes suportariam tantos signos produtores de imagens cujos sentidos transcendem às vezes a razão? A escrita não se tornou a morte da memória, mas impossibilitou a morte dos poetas eternizados nas páginas dos livros e memórias dos leitores.

 

poema 10

meus caninos

já foram místicos

simbolistas

sócio políticos

sensuais eróticos

mordendo alguma história

agora estão famintos

cravados na memória

 

Nesses oito versos, o autor nos apresenta metalinguisticamente seu percurso poético até este livro que não é uma obra dedicada ao passado. O presente político do Brasil (des) norteia o poeta que não deixa de atacar com sua lira de peçonha os problemas que nunca deixaram de afligir estas paragens desde o suposto grito de Cabral.

 

poema 12

 

tem algo de errado

nessas estatísticas de mortes

dessa pandemia

multipliquem  60.000 X 10

e ainda não vai ser exato

o número de cadáveres

empilhados nos campos de concentração

que dá um nome ao   país

que ainda nem era uma nação

 

A verve surrealista do poeta se manifesta principalmente nos poemas narrativos protagonizados por personagens intertextuais como “macabea” (alusão evidente à conhecida protagonista de A hora da estrela de Clarice Lispector) e alter egos – lady gumes – parodísticos do próprio autor.

 

Em FULINAIMAGEM 14 o tom  de diário se instaura com inscrição de data do acontecimento rememorado e transborda na escrita de si em que se revela o papel que a poesia e o teatro desempenham na escritura de seu trajeto como autor: “a minha relação poesia teatro poesia é visceral vital para o que escrevo como quem encena  a necessidade do corpo como expressão”. Artur Gomes, este homem com a flor na boca, anda a espalhar o veneno agridoce de sua poesia, numa obra em que não há fronteiras entre o artista, o cidadão, o personagem, o eu poético, a obra. Seu livro não é um objeto, mas um produto interno e nada bruto. A obra é sempre muito maior que o livro, pois este, matéria assim como o homem, finda. A obra, esse totem que se pode cultuar no altar da memória, está sempre presente. E é disso que o poeta fala: do tempo presente, do homem presente, da vida presente. Parafraseando Drummond, com O Homem Com A Flor Na Boca, “não nos afastemos, não nos afastemos muito”, vamos de mãos dadas com a poesia de Artur.

 

Adriano Carlos Moura

Professor de Literatura – IFFluminense, Campos dos Goytacazes-RJ – 



O Homem Com A Flor Na Boca - por Simone Bacelar


"O Homem com a Flor na Boca" é uma coletânea de poesias que captura a essência da experiência humana através de uma linguagem poética marcante. Escrito pelo talentoso autor Artur Gomes @fulinaima , o livro explora temas universais cativando o leitor com sua sensibilidade e profundidade. As poesias refletem uma jornada emocional envolvente, onde cada verso é uma janela para o coração e a mente do autor, convidando o leitor a se perder nas palavras e encontrar significado em cada linha. Com uma mistura de imagens vívidas, metáforas evocativas e uma linguagem única, "O Homem com a Flor na Boca" é uma obra que ressoa com todos aqueles que buscam conexão e compreensão no mundo ao seu redor.

 

Simone Bacelar

https://arturgumes.blogspot.com/

 



terça-feira, 12 de março de 2024

Sarau Campos VeraCidade

Sarau Campos VeraCidade

 Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia

 mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que foi o que é e o que pode ser.

 Abertura:

Leitura do poema Cidade, de Prata Tavares, por Artur Gomes

 Participações:

mesa de bete-papo:

 Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Ronaldo Junior

 poesia:

 Clara Abreu + Jonas Menezes + Valdiney Mendes + Marcelo Perez + Gezebel Mussi + Paulo Victor Santanna 

 música:

Thais Fajardo + Arnaldo Zeus + Reubes Pess + Renato Braga

 teatro infantil:

 Grupo GOTA

direção:

Simone Jardim

 contação de estória

: Onalita Tavares Benvindo

 produção:

Artur Gomes e Clara Abreu

direção: Artur Gomes

leia mais no blog

https://fulinaimargem.blogspot.com/

Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos – Uma Nova História


sexta-feira, 8 de março de 2024

Múltiplas Poéticas

Pedra Pássaro Poema

 

era uma vez um mangue

e por onde andará Macunaíma

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

será que ainda existe algum

vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

 

Macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em Campos dos Goytacazes

 

Macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em São Francisco do itabapoana

 

Artur Gomes

Poesia Plural

Org. Chris Resplande

Editora Arribaçã – 2023

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/



*


 É HOJE! É HOJE! É HOJE!

9 março 2024  

Vernissage da exposição coletiva de arte contemporânea "Mulher 8", na qual participo com o poema visual "Me-We".

Exposição MULHER 8
Galeria Espaço Zagut
16h | 09.Mar.2024
Rua Siqueira Campos 43 / 725.
Copacabana.Rio de Janeiro, RJ 

                    Tchello d´Barros



*

Ferências – Valdir Rocha 

*

Amor no bairro Floresta

eu passo os dias a por reparo
quando ao fechar a janela
fitas o pé de quaresmeira

e ao percorrer a cidade, buscando direções
conta-me sobre constelações

Órion, que se apaixonou por Artémis
e foi morta por um escorpião
Andrômeda e sua forma espiral

a vida em seus métodos
a rua Pitangui e suas intersecções
você se perde e é preciso voltar

à casa
ao apartamento
à torneira que goteja como chuva
esticando as vontades

a vida apresenta-me um amor
em tempo de madureza
sua refeição de nuvens e fome

e se tenho um amor
penso na rosa fulva e incandescente
que avidamente desfolhas

pois se tenho um amor
durmo nos braços de um poema

e entre essas tantas e outras coisas
que este amor apresenta
eis que aprendo sobre o tempo

Adri Aleixo

foto: Marcello Vitorino 

Sim, já fui às ruas protestar, cartaz, megafone, silêncios e todos os instrumentos ao alcance, lembra-me o face.

Fui, mas já não vou... Estou exausta!

Mantenho, no meu "calado pertencido", a utopia cultivada, apenas para poder caminhar.

 

                      Dalia Teles Veras 


"O Auto-retrato"

às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
as coisas que não existem
mas um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,
no final que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

 

Mário Quintana 


Estou só

cabeças na multidão
corações arfantes
mãos que abanam
bocas que gemem
olhos murchos
corpos inflados

patinam no desamor
sem perder o prumo

scmos seres em filas
com ares longínquos
fios de sedas
devorados por traças

pés cansados
seres fugidios
pálidos, sem cores

como putas que aguardam fregueses
nas esquinas

como cadelas
que abanam seus rabos

somos fantasmas solitários
piscando pro infinito
sentados nos degraus da infância

rastejamos na euforia popular
sorrisos plastificados
sem sabores,
como seres penhorados
vadiamos
aguardando a sua vez...

Me conceda
a próxima dança?

 

Luiza Silva Oliveira 


Federika Bezerra

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https://arturfulinaima.blogspot.com/


 a vida e sua lógica

a tempestade vem
se instala
molha tudo
você acha que vai se afogar
e depois percebe
que só por causa dela,
floresceu.


                                  Mônica Braga 


MULHER

Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

Florbela Espanca 



ALGUMA POESIA

não. não bastaria a poesia deste bonde

que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.

não. não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô.
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.

não. não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.

não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e uma cheiro de fêmea no ar devorador

aparentando realismo hiper-moderno,
num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos

não. não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma um tanto porca,
este postal com uma imagem meio Lorca:
um bondinho aterrizando lá na Urca
e esta cidade deitando água em meus destroços
pois se o cristo redentor deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus ossos.

.
Artur Gomes In Couro Cru & Carne Viva Prêmio Internacional de Poesia – Quebec – Canadá 1987 Poeta, ator, produtor, compositor, agente cultural, inquieto “cachorro doido”. É impossível falar da poesia de Campos dos Goytacazes sem mencionar um de seus principais militantes. Artur é um tipo de poeta sem “papas”, mas com “farpas” na língua. Seu texto é cortante da vertente política à amorosa. Artur é musical, intertextual. Seus poemas pertencem a uma classe específica: a dos que precisam também ser falados em voz alta. Não é um poeta apenas para estantes, mas para o palco, bares, ruas, etc. E assim faz o poeta, que freqüenta várias cidades do Brasil declamando seus textos, participando de mostras e festivais. Em Campos, foram muitos os eventos e as performances produzidos por ele. Desde mostras visuais de poesia brasileira a happening em ônibus e bares. O poema acima apresenta um eu-poético deslizando pelos prazeres e paisagens da urbana Rio de Janeiro dos anos 80. O verso conciso é também carregado de imagens sonoras seqüenciadas em rimas com aliterações e assonâncias como “porca” “Lorca” “Urca”. Esse recurso aparece com freqüência em outros textos do poeta. Será uma das razões de tantas parcerias de Artur Gomes com músicos como Paulo Ciranda e Luiz Ribeiro?


Adriano Moura

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concretar é preciso
Tchello d´Barros

Artur Fulinaíma
teve sua conta
banida do face
mas teimoso e concreto
ele permanece aqui
erótico
ereto

Rúbia Querubim
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Sarau Campos VeraCidade

 Dia 15 de Março 19h - Palácio da Cultura - música teatro poesia

 mesa de bate-papo :um olhar sobre a cidade no que foi o que é e o que pode ser.

 Abertura:

Leitura do poema Cidade, de Prata Tavares, por Artur Gomes

 Participações:

mesa de bete-papo:

 Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia + Ronaldo Junior

 poesia:

Clara Abreu + Jonas Menezes + Valdiney Mendes + Marcelo Perez + Gezebel Mussi

 música:

Thais Fajardo + Arnaldo Zeus + Reubes Pess + Renato Braga

 teatro infantil:

 Grupo GOTA

direção:

Simone Jardim

 contação de estória

: Onalita Tavares Benvindo

 produção:

Artur Gomes e Clara Abreu

direção: Artur Gomes

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Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos Uma Outra História


cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...