domingo, 28 de setembro de 2025

Por Onde Andará Macunaíma?

 

Onde está Macunaíma?

 

no poema na metáfora

no palco no livro

na tela do  cinema

no Acre na Amazônia

em Minas Bahia Pernambuco

Pará Sergipe Piauí

 Rio de Janeiro Espírito Santo

Macuaíma está em todo canto

Paraná Santa Catarina

até nas mais remotas

matas virgens  do Xingu

ou nas águas frias

do Rio Grande do Sul

ou nas termas quentes

do Rio Grande do Norte

Macunaíma vento forte

se misturou nas maravilhas

e também nas sutilezas

divina preguiça da beleza

das terras do bem virá

comeu o pão que o diabo amassou

quando se transmutou por São Paulo

no trampo do caos urbano

quase desapareceu do país

mas como um bom feiticeiro

seu pai não se enganou

te fez tornar-se encantado

para que o povo então  entendesse

as profundezas do teu  significado

 

                   Terra,

antes que alguém morra

escrevo prevendo a morte

arriscando a vida

antes que seja tarde

e que a língua da minha boa

não cubra mais tua ferida

 

Artur Gomes

dos livros : Suor & Cio (1985)

e Pátria A( r)mada - 2022

Por Onde Andará Macunaíma ?


 Gigi Mocidade - Eva já subiu a serra de Pacaraima? já viu o sol nascer na terra de makunaima? já beijou a pedra marco zero de Roraima? Piamã disse que não,  mas Irina já experimentou o experimental de Wally Salomão 

Federico Baudelaire - de onde estou em Itabira eu te pergunto Nilson Siqueira por onde andará Macunaíma? Eva Seiberlich não soube me responder se subiu serra do pacaraima ou beijou a pedra de muiraquitã, Cy a rainha mãe mato continua desfilando na Portela – Paulo Victor que esteve por algum tempo incorporando Macunaíma escafedeu-se tomou chá de sumiço com medo de Piamã com o seu descompromisso - preguiça só quem pode ter mesmo é o próprio Macunaíma. Já dizia Mário de Andrade em, seus delírios febris.

Ainda na Estrada frustrado por passar em Iriri e não encontrar a minha amada. Por onde andará Irina? que não é Macunaíma e só de sacanagem ou até sagaranagem, Rúbia me informa o paradeiro errado da minha andorinha azul, ela deve ter ido pro norte mas querubim me diz que foi pro sul, desfilar de porta/bandeira sem ensaio na mocidade independente de padre olivácio, no festival de Blumenau, aceitando o  convite do Pastor de Andrade o aliciador de ovelhas desencantadas. Só me resta conferir com Federika se ela foi mesmo para Blumenau ou foi se instalar em Vila Rica, depois de passar pelas praças de Bento. 

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

 

era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma

(Ainda estou aqui)

na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?

tá no canto da sereia
no rabo da arraia
nos barracos da favela
nos becos do matadouro
na usina sapucaia?

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

 desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

 nos porões dos satanazes

 está nos corpos incinerados

 na usina de cambaíba

 em campos dos goytacazes

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos em

               são        francisco do itabapoana


Joilson Bessa me disse
Kapiducéu já ensaia
Macunaíma vem vindo
no Auto do Boi Macutraia

 

Artur Gomes

poema do livro

Itabapona Pedra Pássaro Poema

Litteralux – 2025

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quinzenalmente às segundas Por Onde Andará Macunaíma está na coluna que assino no canal ArteCult.com 

A Biografia de Um Poeta Absurdo

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terça-feira, 23 de setembro de 2025

TransPoÉticas - Coletânea de Poetas Vivos

Fecho os olhos
e a tua imagem surge
como um poema perfeito.

Tenho nos lábios
um beijo guardado
feito flor que espera, pacífica,
pela chegada da Primavera.
E desejo... eu te desejo tanto!

Sonho em te beijar,
mais que tudo.
Provar teu gosto
e fotografar teu cheiro
na memória da minha pele.
Tatuar tuas mãos em mim.

Acolher teu corpo junto ao meu
e te respirar. Sentir o calor
que vem de ti ao amanhecer
e percorrer a tua pele
com as pontas dos dedos,
sussurrar no teu ouvido
todos os meus segredos,
ser tua, enfim... tua.

Fazer de ti o meu altar
onde entrego o melhor
que há em mim:
a minha estúpida fé no amor
e todos os pecados que cometi
antes de olhar nos teus olhos.

Tríccia A.

Encontro Literário

Jovens Em Movimento

Poesia Literatura

Roda de Conversa 

Intervenções PoÉticas 

#poesia #literatura #intervençõespoéticas #encontroliterario #jovensemmovimento

#rodadeconversa

#BalbúrdiaPoÉtica

*

porta/bandeira 

 

diante de tudo

que tenho falado

despido lido escrito

ser porta bandeira

não é uma missão

apenas por ter incorporado

a Mocidade Independente

de Padre Olivácio

     em Ouro Preto

tem mais angu nesse caroço

cabeça nesse prego

não nego

estou metida nessa trama

dos pés aos fios de cabelo

em cada uma das nervuras desse osso

debaixo dos lençóis de cada cama

tem segredos e mistérios

que sendo revelados

deixariam qualquer país em alvoroço

 

Federika Bezerra

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Drummundana Itabirina

:

Por Onde Andará Macunaíma?

 *

Itabirina pedra que alucina

              Federico Baudelaire

*

As 7 Sereias do Longe

 

recebo tua carta

sereia do longe 7 beijos de areia

rondam marés criaturas o “magma” deve ser público princípio lúdico

poeta não se priva do povo

assim como a gema do novo

a simples clara do ovo

um beijo na escritura

poeta é país não é ilha

restrita a qualquer família

não pertence ao pó nem a filha

é posta em mesa profana

para o banquete das letras

poema – linguagem humana

não se detém nas gavetas 

nem veredas nem nonada

tudo DADA tudo ista

o poema naasce em mim

de forma bem imprevista

poema um beijo na boca

os olhos azuis como  lua

nós dois amantes da rua

comendo jabuticaba

no presépio de Santo Antônio

em uma Nova Granada

nenhuma alma  presente As 7 Sereias no Longe As 7 musas - mar à vista na febre do diamante nas asas do continente meto meu  metal  cateto na carnal    da    hipotemusa o poema arranha aranha na blusa desconcerta a matemática no roteiro dos 5 sentidos “As 7 Sereias do Longe” ainda cantam em meus ouvidos 

obs.: As 7 Sereias do Longe, é título da tese de Doutorado de Hygia Camon Ferreira, sobre a obra de João Guimarães Rosa. No momento de sua defesa, na UNESP-São José do Rio Preto-SP, ela pede a publicação do livro de poemas Magma, que as filhas de Rosa, está proibindo de ser publicado. Alguns meses depois o livro foi publicado pela Editora Saraiva. 


Artur Gomes

in Drummudana Itabirina

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Entre feridas abertas e pedras soltas

ecoa um grito surdo, abandonado…

É o amor, que não se cumpriu,

que chora em silêncio.

No fluxo das sombras, nenhuma maldade,

apenas algumas cicatrizes abstratas

e infinitas lembranças concretas

a fecundar os ossos…

E nascem flores, quando digo o teu nome,

e são coloridas e negras e invisíveis…

Elas lembram a tua chegada

e, só por isso, sabem curar meus olhos.

 

Tríccia A.

                           esses que aí estão

atravancando o meu caminho

eles passarão

e eu, passarinho

 

                           Mário Quintana 

Mario Quintana é um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Mas ser grande não significa que ele quis ser global, pelo contrário.
Em vez de ir morar nas metrópoles da época, Rio e São Paulo, optou por passar a vida em Porto Alegre, de onde era visto caminhando, sentado pelas praças e trocando palavras gentis com os passantes da cidade.
Quintana já foi faz tempo, morreu próximo do dia da chegada do corpo de Ayrton Senna o Brasil, o que ofuscou um pouco as notícias de sua morte.
Ele tinha 87 anos e partiu de insuficiência cardíaca e respiratória em Porto Alegre.
Com 26 livros publicados e mais de 130 obras da literatura mundial traduzidas, ele finalmente foi reconhecido pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Surpreendentemente, em vida, tentou ingressar três vezes sem sucesso e recusou uma quarta disputa contra figuras políticas.
Agora, a ABL criou a cadeira 41, além das 40 tradicionais, para homenagear grandes escritores que não integraram a instituição.
No mês passado, o renomado poeta gaúcho de Alegrete, considerado por muitos o maior do Brasil, ocupou essa cadeira.
O anúncio foi feito pelo presidente da ABL, Merval Pereira, durante o programa Coonline (episódio 71 no YouTube), onde também discutiu os 100 anos do jornal O Globo, o jornalismo e a política brasileira atual.
Mario Quintana admitiu, em vida, que não tinha paciência para chás e visitas em busca de votos. Preferia o café preto, quindim e um cigarro no bar da Dona Maria, no Correio do Povo, onde trabalhou.
Agora, falecido há tanto tempo, recebe uma significativa homenagem – que, se estivesse vivo, talvez rejeitasse. Também evitava viagens.
“Tímido nas ruas, mas nunca na poesia”, Quintana parecia, à primeira vista, reservado ou até antipático."
Na Praça da Alfândega, onde era frequente, ignorava quem se aproximava para sentar ao seu lado, com raras exceções. Sentado, parecia absorto, perdido em pensamentos, provavelmente criando os versos que eternizaria.
Hoje, uma estátua sua, ao lado de Carlos Drummond de Andrade, marca sua presença naquele lugar.

Leia a matéria completa:
https://tinyurl.com/y6kmtn3f 

HÁ 30 ANOS: CHICO CARUSO, MES AMIS & MOI


Inaugura-se esta semana que passou  no Rio uma grande exposição sobre os 40 anos do cartunista Chico Caruso no jornal O Globo. Ao ler a notícia, lembrei-me de uma tarde de papos e drinques no Fiorentino do Leblon, em agosto de 1993. Foi quando Chico Caruso assumiu seu lápis infalível e traçou com a precisão de sempre essa charge que aí está, assinada por ele como “Ronaldo e ses amis”. A partir da esquerda, sua mulher, Eliana Caruso; a jornalista Marió Oliveira, minha namorada na época; o maître (como era mesmo o nome?) do Fiorentino et moi. Não sou nenhum presidente da República, nem mesmo qualquer jogador da seleção por ele retratado, mas também já atuei com todas as honras nas charges inesquecíveis do Chico Caruso. 

 

                           Ronaldo Werneck

Profecias, retrofecias 

e outras anomalias


                  Valdir Rocha 


velhos poetas

deitei-me com carlos d.
emprenhei-me de poesia
e ao beber-lhe o poema
sonhei - e eu era tão somente
um dos quadros na parede
de fatigadas retinas

* líria porto


VINIL

 

Pudera comparar a

um velho disco este

arranhado coração.

A saudade é uma agulha

sob a qual você toca,

dolorosa canção.

Mas os tempos são outros,

e este amor, antiga vitrola,

permanece só meu.

Desconfio que para você

eu também deva ser

artigo de museu.

 

[gORj]


bolero
[sil guimarães]

haverá uma esquina onde vão se encontrar
esfolar-se em um passado de asas feridas
escutar a música de uma partitura vazia

nenhum dos dois vai mencionar palavras
como ruptura mágoa desavenças tempestade
amargor ruína asfixia e a pior delas: __________

vão persistir nos seus melhores ângulos
nos finais felizes das velhas fotonovelas
teimar outra vez em fogo árduo & tenro

haverá outros domingos outras esquinas etc.
numa delas [onde mesmo?] vamos nos afastar:
um menino com alzheimer uma menina demente.


[ imagem patrizia savarese ]


o amor é impaciente

ele tem pressa

não somos tão jovens

como as canções

você tirou meu tempo

me fez solidão no amor

me dominou pensamentos

rasgou meu livro

de Bukowski

voce é ousado que só

calou Chico

o Buarque

calou-me

não sei se você brinca

ou flutua

mas sei que causa tumultos

imperdoáveis

você não mente

mas peca

arranca de mim

livros e roupas

rasga tudo

e numa lucidez barata

e calma

tropeço

como nunca

ou eu rasgo roupa e verbo

ou deixo mais um verso solto

demasiadamente solto

feito quem morre

sem conhecer

o cheiro

da flor

que seu corpo vela

 

Mônica Braga em um amor

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/

O AMOR SEGUNDO NERUDA


"Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono."

Pablo Neruda*

(in: Cem Sonetos de Amor, tradução de Albano Martins, ed. Campo das Letras, 2004)

Obs.: extraído do perfil no face da querida amiga Mônica Carvalho Braga,  de 


POEMA OBSCENO

Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema-murro
sujo
como a miséria brasileira

Não se detenham:
façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)

Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais
Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
— e espreitam.

Ferreira Gullar

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[O POEMA OBSCENO]
- conspirações com Gullar-

o poema obsceno
não está nas curvas das moças,
nos seios,
nas coxas,
na língua a circular o umbigo.

o poema obsceno, meu amigo,
tem som de bala perdida,
morre com um ano de vida...
natimorto.

o poema obsceno
tem traços e trejeitos de fome,
tem boca de fome.

é sem teto,
não é tão discreto,
é consternado
e tem olhos vazios.

____________
[Daufen Bach.]

 DEMOCRACIA RENASCE EM COPACABANA

                                             Luís Turiba 

“Toda essa gente se engana/ Ou então finge que não vê que/ eu nasci pra ser o Superbacana/ Eu nasci pra ser o Superbacana(..) Super-homem/ Superflit/ Supervinc/ Superhist/ Superbacana/ Estilhaços sobre Copacabana/ O mundo em Copacabana/ Tudo em Copacabana, Copacabana/ Superbacana/ Copacabana me engana/ Esconde o superamendoim/ O espinafre, o biotônico/ O comando do avião supersônico/ Do parque eletrônico/ Do poder atômico/ Do avanço econômico/ A moeda número um do Tio Patinhas não é minha/ Um batalhão de cowboys/ Barra a entrada da legião de super-heróis/ E eu Superbacana/ Vou sonhando até explodir colorido/ No sol, nos cincos sentidos/ Nada no bolso ou nas mãos (...) Um instante maestro/ O mundo explode longe, muito longe/ O Sol responde/ O tempo esconde/ O vento espalha/ E as migalhas caem todas sobre.../ Copacanana me engana.” – Caetano Veloso, no LP “Tropicália”, 1968.

O “fundo musical” foi quase o mesmo. O clima também. O calorão (40º) invadiu o fim do inverno e deu início à Primavera no Rio de Janeiro de 2025. A (o) carioca voltou às ruas, tomou o pulso da situação e mostrou aos parlamentares (deputados e senadores) que o povo é fundamental na democracia brasileira. 

A indignação do povo brasileiro chegou ao limite. Diante das falcatruas do ex-governo do Bolso e suas famílias civil e militar, com o apoio do Centrão e seus truques para “boi dormir”, de falsas juras e indignas promessas de total liberdade de roubos e desvios, sempre buscando construir um ilusório processo de Anistia para o ex-presidente julgado pelo STF com penas que chegam a 27 anos de PRISÃO, pela tentativa de golpe do Estado e diluição da democracia. 

“PEC da bandidagem, não passará”, era o grito uníssono dos que saíram às ruas no último domingo. Aqui e em centenas de outras cidades brasileiras. 

Copacabana não se enganou, encantou e cantou alto e forte. O povo voltou às ruas com camisetas, faixas, bandeiras e muita música. Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Ivan Lins, Paulinho da Viola. Geraldo Azevedo, Chico César e muitos outros. 

Magicamente e de repente, a Avenida Atlântica recebeu uma caminhada do “povo preto do candomblé”, marcando as lutas pelas liberdades religiosas. Afora isso, as duas maiores torcidas do futebol carioca também foram para Copacabana. Torcedores do Flamengo e do Vasco, que no Maracanã empataram um jogo disputadíssimo, fizeram as festas enquanto rolavam as deliciosas apresentações musicais. Viva o futebol e a Música brasileira. 

Ou seja: um domingo totalmente carioca de sol a 40º graus, anunciando o verão democrático que se aproxima; o grito forte, uníssono e festivo do povo carioca, com a sua juventude musical; um supershow moderno e saudoso que fez muita gente chorar suas emoções, relembrando músicas que fizeram história na luta pela Democracia no Brasil nos últimos 50 anos. Foi simplesmente o máximo, obrigado cantores e compositores da MPB pelo convite. Agora estamos de mão dadas.

 Ontem Gonzaguinha faria 80 anos e a memória bate com força. Me lembro do instante preciso: eu saía da escola no Leblon, onde dava aula, quando o porteiro me chamou. Ele falou baixo, como quem não quer atropelar nada: “O Gonzaguinha morreu num acidente de carro”. As pernas falharam. Sentei no chão do pátio e chorei do jeito que chora quem já sabe a extensão de uma perda. Não era apenas dor de fã. Era perda de um intérprete do país.

As letras dele tinham essa habilidade de serem íntimas e coletivas ao mesmo tempo. Em “Comportamento geral”, a denúncia não deixava dúvidas, penetrava fundo; a letra desmontava a fala mansa da censura e pegava o povo pelo que realmente sentia: indignação. Em “O que é, o que é?” havia riso e ternura, mas nada que embebedasse o juízo, era viver com olhos abertos. Em “Pequena memória para um tempo sem memória”, ele fazia arqueologia do esquecimento: devolvia rostos ao que o Estado enterrara no silêncio.
Eu o vi cantar na PUC, em um show totalmente lotado. Lembro nitidamente a fila, a bilheteria, o corredor com cartazes colados e o rumor das vozes. Assisti sentindo arrepios de emoção, cada canto do auditório vibrando junto com ele. Cada verso era resistência, cada canção um ato político. Gonzaguinha não precisava de aplausos vazios, ele empunhava suas canções como bandeiras, falava em nome de todos que eram silenciados, transformando cada verso em documento de resistência.
Se estivesse entre nós neste domingo, lá ele estaria cantando suas músicas de protesto, discursando contra a PEC da Bandidagem e denunciando a Anistia para os responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro. Com certeza.
Perde-lo foi perder uma referência ética. Ainda hoje, quando ouço as faixas antigas, sinto que aprendo algo novo sobre responsabilidade. A saudade é direta, sem adorno. Gonzaguinha permanece presente porque a verdade 
que ele cantou continua exigente. 

Marta Viveiros de Castro 

obs.: com certeza vivo ainda fosse entre nós nesse planeta Gonzaguinha estaria em Copacabana nesse último domingo cantando nas manifestações anti bandidagem do congresso nacional e dos mafiosos golpistas que tentaram contra a democracia brasileira e o estado democrático de direito - desde que ouvi comportamento geral pela primeira vez, e o compacto quebrado por Flávio Cavalcanti na 
TV, que também me tornei seu fã incondicional e acompanhei sua trajetória na MPB até a sua morte. E mais que nunca precisamos edstar sempre atentos ao seu "Grito de Alerta". (Artur Gomes

                FIANDEIRA

     Raquel Naveira

 

Sou uma fiandeira

Tecendo noite e dia

Uma esteira de pensamentos.

 

Sou uma fiandeira

Aranha tirando de dentro

A liga que emaranha.

 

Sou uma fiandeira

Amarrando com mãos firmes

Os laços do meu destino.

 

Sou uma fiandeira

Bordando com palha e ouro

A bandeira da minha fé.

 

Sou uma fiandeira,

Vivo à beira

De tudo aquilo que é frágil,

Que parece fiapo

Ou que está por um fio.

 

Poema do livro FIANDEIRA, Life Editora – Campo Grande-MS - 2023

Obs.: este poema está gravado por Tetê Espínola –

RAQUEL Maria Carvalho NAVEIRA nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 23 de setembro de 1957. Formou-se em Direito e em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. Deu aulas de Literatura Brasileira, Latina e Portuguesa na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) onde se aposentou. Residiu no Rio de Janeiro e em São Paulo onde deu aulas na Universidade Santa Úrsula (RJ) e na Faculdade Nove de Julho (UNINOVE) e na ANHEMBI MORUMBI de São Paulo. Palestras e cursos em vários aparelhos culturais como Casa das Rosas, Casa Guilherme de Almeida, Casa Mário de Andrade. Publicou mais de trinta livros de poesia, poesia, ensaios, crônicas, romance e infantojuvenis. Os mais recentes são os livros de crônicas poéticas LEQUE ABERTO (Guaratinguetá/SP: Penalux) e MANACÁ, da mesma Editora. Escreve para várias revistas e jornais como Correio do Estado (MS). Jornal de Letras (RJ). Jornal Linguagem Viva (SP). Jornal da ANE (Brasília-DF). Jornal “O TREM” (MG). Pertence a Academia Sul-Matogrossense de Letras, à Academia Cristã de Letras de São Paulo, à Academia de Letras do Brasil (de Brasília), a Academia de Ciências  e Letras de Lisboa e ao PEN Clube do Brasil. Recebeu o Grau Comendador da Ordem Guaicurus do Mérito Judiciário do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região-Mato Grosso do Sul. 


segunda-feira, 22 de setembro de 2025

TransPoÉticas

uma quadrilha armada

tomou o país de assalto

jogou brazilha no asfalto

com o beijo da amante prostituta

enlamearam os 3 palácios

:

planalto alvorada jaburu

o desejo era lamber botas

da américa do norte

para que ela se apodere

da américa do sul

 

Artur Gomes

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                        resposta do SerTão Oculto

Que imagem forte e provocativa!

Você descreve uma cena de violência e corrupção, onde uma quadrilha armada tomou o país de assalto e enlameou os símbolos do poder. A imagem do beijo da amante prostituta e da brasileira jogada no asfalto é uma metáfora para a perda de dignidade e soberania.

E a frase "o desejo era lamber botas da América do Norte para que ela se apodere da América do Sul" é uma crítica contundente à subserviência e ao imperialismo. É uma denúncia da forma como os interesses econômicos e políticos de outras potências podem influenciar e dominar os países da região.

Essa é uma poesia de protesto, que busca chamar a atenção para as injustiças e desigualdades que afetam o Brasil e a América Latina. É uma voz que clama por dignidade, soberania e justiça.

 

                            Irina Severina

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 Entre feridas abertas e pedras soltas

ecoa um grito surdo, abandonado…
É o amor, que não se cumpriu,
que chora em silêncio.

No fluxo das sombras, nenhuma maldade,
apenas algumas cicatrizes abstratas
e infinitas lembranças concretas
a fecundar os ossos…

E nascem flores, quando digo o teu nome,
e são coloridas e negras e invisíveis…
Elas lembram a tua chegada
e, só por isso, sabem curar meus olhos.

                                                 Tríccia A.

Por Onde Andará Macunaíma?

  Onde está Macunaíma?   no poema na metáfora no palco no livro na tela do  cinema no Acre na Amazônia em Minas Bahia Pernambuco Pará Sergip...